Boa leitura à todos!
Abraços fraternos
Ação da
prece
VALCI SILVAvalcipsi@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)
Ensina-nos O Evangelho segundo o
Espiritismo que “a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo
pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um
pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou
por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os
Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons
Espíritos são reportadas a Deus...”.
O texto acima, belíssimo e
inspirador, no entanto, ele é ponto de discórdia entre adeptos das diversas
religiões professadas pela humanidade. Vejamos a seguinte realidade, que se
passa em uma escola de jardim de infância na região central de Brasília. Uma
oração feita pelos alunos diariamente, antes do início das aulas, é o principal
motivo da discórdia. De um lado está um grupo de pais que pede a exclusão de
referências religiosas das atividades escolares. Do outro, os que apoiam o
ritual diário e consideram que a direção da escola está sendo perseguida.
Todos os dias antes das aulas os
alunos se reúnem no pátio da escola para o momento chamado de acolhida. “Nessa
hora, são estimulados a fazer uma ‘oração espontânea’”, como define a diretora
Rosimara Albuquerque. “A cada dia, crianças de uma turma ficam responsáveis por
fazer os agradecimentos a Deus ou ao Papai do Céu. Pode agradecer pelo
parquinho, pelos colegas. Mas houve um questionamento por parte dos pais para
que fosse um momento de acolhida um pouco mais amplo já que algumas famílias
não comungam dessa religião (a diretora é católica), que seria basicamente
cristã”, conta Rosimara, que está à frente da escola há seis anos.
A prática existe há 40 anos desde
que a escola foi fundada. Vejamos as opiniões divergentes e favoráveis. Para a
radialista Eliane Carvalho, integrante da Associação de Pais e Mestres do
colégio, a escola está ultrapassando os limites permitidos pela legislação. Ela
e outros pais que protestam contra essas atividades se apoiam no princípio
constitucional da laicidade para pedir que práticas de cunho religioso fiquem
de fora do ambiente escolar. Além do momento da acolhida, ela conta que notou
outros sinais de violação, a partir de informações que o filho de 4 anos levava
para casa. "Não posso dizer que existem dentro da sala de aula práticas
religiosas. Mas meu filho não aprendeu em casa a orar em nome de Jesus. Um dia
ele me disse que o telefone para falar com Jesus era dobrar o joelho no
chão", relata Eliane.
Do lado oposto, ou seja, os que
são favoráveis à prática salutar da prece, um grupo maior de pais organizou um
abaixo-assinado a favor da escola e da oração no início das aulas. “A forma
como eles, professores e direção, estão atuando não é nada abusiva ou
direcionada a uma crença específica. Eles colocam a palavra de Deus, como
entidade superior, e agradecem à família. São só coisas boas, frutos bons. Quem
está incomodado é uma minoria", defende Thiago Meirelles, que é católico e
pai de um aluno.
Eliane Carvalho (associação de
pais) lamenta que a discussão tenha ficado polarizada. "Não é uma
discussão pessoal, mas de currículo. O grupo que fez o abaixo-assinado passou a
nos ver como perseguidores de cristãos e hoje somos vistos como pessoas
absurdas que não querem a palavra de Deus na escola. Todos têm o direito de fazer
suas orações, mas eu questiono o fato de a escola aceitar uma prática que, para
mim, se configura em arrebanhar fiéis", diz.
Na última semana a reza foi
substituída por cantigas de roda e outras atividades. "Aí, sim, parecia
uma escola, antes parecia uma igreja. Como pai que tem a obrigação de dar uma
orientação religiosa à filha, não posso permitir que haja divergência. O mais
triste é que, apesar de essas pessoas dizerem que estão pregando o amor e o
respeito, elas não têm respeito nenhum pela minha liberdade de que não haja
essa interferência religiosa", diz Mafá Nogueira, pai de uma aluna. Este
pai se esquece do oposto da sua fala, que seria o fato de ele respeitar a
prática de se levar às crianças a oportunidade do aprendizado da oração, independente
de convencer a criança a professar qualquer religião.
Para resolver o problema, a
escola vai convocar reuniões com pais, professores, funcionários e
representantes da Secretaria de Educação. "Vamos discutir como a gente
pode abordar a pluralidade e a diversidade sem agredir ninguém e que todos
possam sair satisfeitos. Polêmicas à parte, devemos refletir a respeito do
quanto ainda a humanidade não busca compreender boas ações e boas práticas.
Independente da crença e da fé religiosa, a prece é instrumento universal e
incontestável meio de nos ligarmos ao bem. A questão é que cada segmento
religioso quer crer que suas preces e suas práticas são melhores e mais
apropriadas do que a dos demais, o que naturalmente leva ao conflito, na crença
de que ‘meu’ Deus é melhor do que o seu e outros que não têm Deus nenhum.”
O simples ato de ensinar crianças
a orar gerou toda uma polêmica, pois ainda há muitos no mundo que não
compreendem e nem aceitam a existência de Jesus como modelo e guia para o homem
na Terra, ensinando que nos amássemos uns aos outros.
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