Oração e Vigilância
O homem respeitoso, que curva o corpo no arado e sulca o seio virgem da terra, ora, porque arando está também orando.
A mulher, que se ergue e, tomando das mãos do pequenino,
condu-lo através da experiência do alfabeto, ora, porque ensinar é orar.
O jovem, que renuncia à comodidade do prazer e oferece suas
horas ao ministério sacrossanto da enfermagem, ora, porque atender à dor alheia
também é orar.
O homem, que empreende a luta pela aquisição honesta do pão
que lhe honra a estabilidade doméstica, ora, porque no cumprimento dos deveres
morais também se está em prece.
Quem, buscando a fonte generosa, distribui água refrescante,
ora, porque matar a sede do aflito é também orar.
Há, entretanto, fora do trabalho, uma forma diferente de orar.
A natureza é um templo, no qual o coração se faz altar,
convidando o ser à comunhão com a vida.
Todo aquele que, depois da prece-ação, continua sentindo sede
interior de paz, abandone, por momentos, o tumulto do mundo e mergulhe as
antenas mentais no oceano de magnificentes cores da Natureza e repita no imo,
em murmúrio, a oração dominical, para receber da Divindade alento e força para
a jornada na qual, muitas vezes, o coração desfalece enfraquecido, Ouvirá, então, no interlóquio, a voz do Senhor, mantendo com
a alma ansiosa um diálogo e colocando uma ponte no abismo que a separa do seu
Criador.
* * *
A boca, na disputa verbalista, que é tentada ao revide e
silencia, humilde, vigia, porque calar uma ofensa é repetir um pequeno curso de
vigilância.
A mão que, em se levantando para apontar um ofensor, na via
pública, dobra-se reverente, quedando-se caída, vigia, porque não acusar é
exercer vigilância em si mesmo.
A alma, que despedaça a cólera aninhada no coração e que
antes se dispunha a saltar perigosa sobre o agressor ao seu alcance, vigia,
porque perdoar o crime é colocar-se em vigília.
Os dedos nervosos, que ao tomarem da pena para escrever um
libelo, no qual, em se defendendo acusam, indo, inadvertidamente, cometer o
mesmo erro, mas, no justo momento do revide, espalma a mão sobre o papel alvo,
conferindo ao tempo a oportunidade de esclarecimento, vigia, porque não revidar
golpe com golpe é exercitar a experiência de vigilância.
Há, ainda, uma vigilância pouco exercitada e recomendada pelo
Senhor, que é aquela que convida o crente a conduzir a alma de tal maneira, que
se não deixe contaminar pelo veneno do mundo, mesmo quando os fortes elos das
tentações se unirem em cadeia vigorosa, ameaçando despedaçar a atividade das
boas intenções.
_ “Está alguém entre vós aflito?” – indaga o apóstolo Tiago –
“Ore!”.
E o Divino Mestre recomenda: “Vigiai e orai, para não cairdes
em tentação”.
Espírito: Vianna de Carvalho
Médium: Divaldo P. Franco – Enfoques Espíritas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ei aí? Que você achou? Comente aqui!