Bem-aventurados
os Limpos de Coração
Bem-aventurados
os limpos de coração, porque eles verão a Deus.... (Mateus, 5:8)
Como
se verifica pela leitura do Velho Testamento, os judeus eram extremamente
meticulosos no que dizia respeito à limpeza, quer em sua vida privada, quer nas
praticas cerimoniais de seu culto.
Preocupavam-se
sobremaneira com toda e qualquer forma de contaminação exterior, cumprindo à
risca as regras severíssimas estabelecidas pelo rabinismo quanto à alimentação
e à vestimenta, assim como aos holocaustos ou sacrifícios oferecidos no templo.
O
Levítico, livro das leis judaicas, chega ao exagero de proibir certos atos
devocionais a quem apresenta deformidade, a saber: se for cego, coxo, de nariz
pequeno, grande o torcido, se tiver quebrado o pé ou a mão, se for corcovado,
se remeloso, se tiver belida no olho, se portador de sarna ou impigem... (21:27
a 20).
Jesus,
todavia, longe de dar atenção a esse formalismo de somenos importância, conhecendo
a incúria geral para como os verdadeiros mandamentos de Deus, indicou, mais de
uma vez, a necessidade de curarmos, com maior empenho, as mazelas e sujidades
de nosso íntimo, pois são estas que nos impedem a entrada no Reino dos Céus.
Assim,
é que, a um fariseu, por quem fora convidado a jantar em sua companhia e que
consigo fazia reparos por não ter Ele, o Mestre, lavado as mãos antes de
sentar-se à mesa, disse sem rebuços: “Vos outros pondes grande cuidado em
limpar o exterior do corpo e do prato. Entretanto, o interior de vossos
corações está cheio de rapinas e de iniqüidade” – (Lucas, 11 37 a 39)
De
outra feita, respondendo à mesma censura feita a seus discípulos, chamou o povo
para perto de si e assim se expressou: “Escutai e compreendei bem isto; Não é o
que entra na boca que macula o homem; o que lhe sai da boca é o que o macula. O
que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem, porquanto do
coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as
fornicações, os latrocínios, os falsos testemunhos, as blasfêmias e as
maledicências. Essas são as coisas que tornam impuro o homem” – (Mateus, 15: 1
a 20).
Em
nova oportunidade, como completando a elucidação desse ponto, ao perceber que
seus discípulos procuravam afastar algumas crianças que lhe eram trazidas para
que Ele as abençoasse, falou-lhe severamente: “Deixai que venham a mim as
criancinhas e não as impeçais, porquanto o Reino dos Céus é para os que se lhe
assemelham. Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus
como uma criança, nele não entrará. (Mateus, 19 13 a 15 )
Deduz-se,
pois, dos ensinos de Jesus, que impurezas de coração não significa apenas
malicia e abuso dos prazeres sexuais, mas também a fatuidade, o orgulho, o
interesse egoísta e outras falhas morais, cujas manchas são bem mais difíceis
de remover do que aquelas existentes na superfície das coisas.
Dizendo
que o Reino dos Céus é para os que se assemelham às crianças, quer com isso dar
a entender que, enquanto não alijarmos de nós os pensamentos vulgares, a
linguagem descuidada e as ações desonestas (no sentido mais amplo do termo),
adquirindo a candura, a humildade e a simpleza personificadas na infância, não
estaremos em condições de comparecer à presença de Deus.
Cuidemos,
então, do refinamento de nossas idéias e maneiras, para que, um dia, ainda que
longínquo, possamos ter a ventura de ver a Deus face a face! ( Mateus, 5.8)
Livro:
O Sermão da Montanha de Rodolfo
Calligares.
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