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terça-feira, 23 de julho de 2013

O colar de pérolas - matéria publicada na revista Reformador

Olá amigos, que a paz do Cristo nos envolva!

Hoje compartilhamos um texto para auxiliar nos estudos do evangelho. 

O texto foi publicado na revista Reformador e é de autoria de Haroldo Dutra Dias, estudioso da área de evangelho. 

Esperamos que a leitura deste texto auxilie à todos nos estudos da Boa Nova!

Abraços fraternos


O colar de pérolas

Haroldo Dutra Dias, na revista Reformador

Que beleza tuas faces entre os brincos, teu pescoço com colares de pérolas.

O livro Cântico dos cânticos está associado, de modo especial, ao recebimento da revelação no deserto do Sinai – doação ou dom da Torah – simbolizando o casamento de Deus com seu povo escolhido. No início desse livro, encontramos o belíssimo verso, acima citado, no qual a esposa bem-amada – Israel, segundo a tradição – é louvada e elogiada por seu marido, o Deus Todo-Poderoso.


    O colar de pérolas, no pescoço da amada esposa, é um símbolo da revelação divina, conhecida entre os judeus pelo nome de Torah, transmitida a Moisés no deserto do Sinai. Trata-se de um presente do marido (Deus) à sua adorável mulher (Israel). Por constituir um verdadeiro poema de amor, uma obra de arte, só pode ser compreendido, apreendido pelo coração e pela intuição. Pode ser esta a ideia sugerida pelo símbolo “teu pescoço com colares de pérolas”! 
    A tradição hebraica, porém,ultrapassou o caráter poético e simbólico do referido texto para conferir-lhe nuanças interpretativas surpreendentes, utilizando-o como base para a formulação dos princípios fundamentais da sua exegese bíblica.
    Por esta razão, encontramos,nas fontes rabínicas, inúmeras alusões a um método de comentário e interpretação da escritura (exegese), chamado “colar”, em hebraico harizah. Este método consiste em compor um colar de pérolas de versículos da Bíblia,todos a respeito de um determinado assunto, colhidos do Pentateuco, dos Profetas e dos Escritos (demais livros da Bíblia), no qual cada trecho ou versículo representa uma pérola.

    Dentre os inúmeros métodos de interpretação encontrados no Midraxe (compêndio de exegese judaica), a harizah ocupa um lugar privilegiado, já que é utilizada pelos mestres hebreus toda vez que desejam ensinar à comunidade um ponto importante da fé de Israel, difícil de ser apreendido pela leitura puramente literal do texto bíblico.

    Selecionamos um texto da tradição judaica, que descreve a harizah, demonstrando a sua importância como técnica de estudo das Escrituras:

   
Quando faziam colares das palavras da Torah, passando das palavras da Torah aos Profetas, e dos Profetas aos Escritos, o fogo flamejava em torno deles e as palavras tornavam-se jubilosas, como quando foram pronunciadas no Sinai: quando pronunciadas pela primeira vez no Sinai, foram dadas entre chamas, como foi dito: a montanha ardia em fogo, até as profundezas do céu. Ben Azai estava sentado e perscrutava a Escritura e o fogo flamejava em torno dele... Rabi Agiba aproximou- se e disse-lhe: Ouvi dizer que perscrutas as Escrituras e o fogo flameja em torno de ti? Ele respondeu: Sim. Rabi Agiba perguntou: Acaso estudavas os segredos do carro de Ezequiel (Ez. 1)? Ele respondeu: Não. Mas eu estava sentado e fazia um colar das palavras da Torah, passando da Torah aos Profetas e dos Profetas aos Escritos e as palavras mostravam-se alegres, como quando foram transmitidas no Sinai. E eram doces, como quando foram roferidas pela primeira vez, porque, ao serem dadas pela primeira vez, não foram dadas no fogo: E a montanha flamejava? (Cântico Rabá 1, 10).

    A narrativa do “fogo que flamejava” em torno dos rabis, que faziam o colar de versículos da Torah, está presente em diversas fontes da tradição judaica, e traduz, sem dúvida, uma forte experiência espiritual, vivida por aqueles anciãos que, pela intuição, alcançaram aquilo que faz a Escritura ser una e coerente – em seu sentido espiritual. É impossível não nos referirmos, neste ponto, àquelas lições de exegese ministradas por Jesus aos seus discípulos, logo após sua ressurreição, no caminho de Emaús, contida no Evangelho de Lucas:

   
[...] E, começando por Moisés e por todos os profetas, interpretou-lhes, em todas as Escrituras,as {coisas} a respeito dele mesmo. Ao se aproximarem da aldeia para onde estavam indo, ele simulou ir {para} mais longe. Eles o pressionaram, dizendo: Permanece conosco, porque está para anoitecer e o dia já declinou. Ele entrou para permanecer com eles. E sucedeu que, ao reclinar-se {à mesa} com eles, tomando o pão, abençoou- o e, depois de parti-lo,dava a eles. Seus olhos foram abertos e o reconheceram; mas ele se tornou invisível a eles. E disseram um ao outro: Porventura não estava nosso coração queimando {em nós}, quando nos falava pelo caminho, quando nos abria as Escrituras?(Lucas, 24:27 a 32).

A semelhança entre a harizah da tradição rabínica e 
o colar de pérolas de Emmanuel não é mera coincidência

    É impressionante o paralelismo desse trecho do Evangelho de Lucas com os outros dois retirados da tradição judaica. Aquele “coração ardente” é o mesmo fogo que acompanha a revelação divina no monte Sinai, é o responsável pela compreensão que os discípulos atingiram acerca dos fatos acontecidos com o Cristo, provando que “só se vê bem com o coração, pois o essencial é invisível aos olhos”. (O pequeno príncipe, Antoine de Saint-Exupéry.) Nos idos de 1948, Francisco Cândido Xavier psicografou a primeira obra de comentários do Novo testamento, intitulada Caminho, verdade e vida, ditada pelo Espírito Emmanuel. O método utilizado pelo benfeitor espiritual naquele livro, para interpretar versículos da Boa Nova, era tão surpreendente e inusitado,que exigiu uma explicação no prefácio:

   
Muitos amigos estranhar-nos-ão talvez a atitude, isolando versículos e conferindo-lhes cor independente do capítulo evangélico a que pertencem.
    Em certas passagens, extraímos daí somente frases pequeninas, proporcionando-lhes fisionomia especial e, em determinadas circunstâncias, as nossas considerações desvaliosas parecem contrariar as disposições do capítulo em que se inspiraram.
    Assim procedemos, porém, ponderando que, num colar de pérolas, cada qual tem valor específico e que, no imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova, cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adapta-se a determinada situação do Espírito, nas estradas da vida. [...]1 (Destaque nosso.)

    A semelhança entre a harizah da tradição rabínica e o colar de pérolas de Emmanuel não é mera coincidência, e demonstra quanto esse benfeitor espiritual está vinculado às fontes do Cristianismo primitivo, representando nosso grande orientador, em matéria de interpretação do Evangelho.

    Para confirmar a seriedade desse processo de interpretação (colar de pérolas), bem como seu enorme uso na Espiritualidade,transcrevemos um trecho da palestra de outro conhecido benfeitor espiritual, Bezerra de Menezes, igualmente vinculado ao Cristianismo nascente, registrada na obra Nos escaninhos da alma, psicografada pelo médium Wagner Gomes da Paixão,em 2001:

   
Pelas paredes do ambiente florido,quanto perfumado, graças aos recursos transcendentes de mentação de nossa esfera,podíamos ler, em caracteres de luz, a se estamparem sequenciados, alguns textos do Evangelho como, por exemplo:
“Portanto deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne” (Mateus,19:5); “Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará” (Decálogo: “Êxodo”, 20:12); “Senhor, deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai” (Lucas, 9:59); “O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai, a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a sua nora e a nora contra sua sogra” (Lucas, 12:53); “O pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos” (João, 3:35); [...]. Recordava-me perfeitamente de muitos dos estudos aprofundados sobre a maioria desses versículos no mundo e uma curiosidade benéfica me aguçou o interesse pela palavra do venerando benfeitor, que soube, por esse artifício tão didático, predispor a todos nós ao assunto que versaria, paternal e lúcido. Não tardou para que chegasse, todo mansuetude e bondade,cumprimentando-nos ao mesmo tempo em que agradecia, humilde,as manifestações espontâneas de nosso afeto.2 (Destaque nosso.)

    Não há dúvida de que Bezerra de Menezes fez uma harizah (colar) com diversos versículos do Novo testamento, todos concernentes a um mesmo tema. Em outro artigo, aprofundaremos o estudo deste método,compondo um colar acerca de determinado tema da Boa Nova, de modo a exemplificar a utilização desse processo interpretativo.

1XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 3. reimp. Brasília: FEB, 2012. Prefácio, p. 14.

2PAIXÃO, Wagner G. da. Nos escaninhos da alma. Pelo Espírito João Lúcio. Belo Horizonte: UEM, 2002. cap. 2, p. 15.

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